Ser mulher significa lidar com os desafios impostos por uma rotina que vai dos cuidados pessoais até a família e carreira. Quando trazemos a pauta ao contexto das mulheres no ecossistema de startups, alguns números espantam: apesar de 46,2% das empresas tradicionais serem fundadas por mulheres, quando falamos em ecossistema de inovação, esse número cai para 4,7%, de acordo com o Distrito.
Com o recente amadurecimento das startups brasileiras, houve um boom de investimento privado nessas empresas – o chamado Corporate Venture Capital. Porém, ainda conforme o relatório, os investimentos de risco destinados a negócios encabeçados por mulheres ainda representam apenas 7% do total.
Acreditamos na importância de promover um ambiente mais inclusivo, em que empreendedoras, investidoras e líderes se sintam confortáveis em participar e levantar seus debates. Por isso, vamos discutir os principais obstáculos enfrentados pelo público feminino no ecossistema de startups e conhecer as iniciativas que podem beneficiá-las.
Mulheres no ecossistema de startups e as principais barreiras enfrentadas
Apesar do Brasil ter desenvolvido um ambiente de empreendedorismo nos últimos anos, esse ambiente ainda é pouco inclusivo com as mulheres. Para se ter uma ideia, o Female Founders Report 2021 divulgou que o número de empresas inovadoras com apenas fundadores homens é quase 20 vezes maior do que aquelas fundadas exclusivamente por mulheres.
Para trazer uma reflexão sobre o assunto, elencamos importantes tópicos que podem explicar por que mulheres ainda são minoria no ecossistema de startups.
Cultura
A barreira de entrada de mulheres no ecossistema de startups – como em outros empreendimentos – é menor em razão da cultura. Como sabemos, a mulher ainda é enxergada como a pessoa responsável pelo cuidado com a casa e dos filhos, o que a impede, muitas vezes, de pensar fora da caixa e tirar uma ideia do papel.
Formação
Nem sempre uma mulher começa um empreendimento com segurança e conforto. Pelo contrário, muitas vezes o negócio se trata de uma saída para que ela consiga pagar as contas – o que se soma à falta de educação feminina sobre como empreender, se associar a outros profissionais e gerar escala através de investimentos.
Ainda sobre a formação, podemos falar sobre a pouca participação feminina na tecnologia. O relatório Women in Tech 2022 se baseou em uma análise de 1 milhão de candidaturas, no período de 2015 até 2021, para entender sobre a participação das mulheres nos cargos da área de tecnologia.
Com recorte na América Latina – região com 45% dos candidatos –, este estudo realizado pela BairesDev mostrou que, somente no Brasil, essa participação teve um aumento de 16% para 40% no mesmo período. Apesar disso, ainda fica claro que muito pode ser melhorado para que mulheres se engajem em negócios de base tecnológica e que tenham a inovação como centro.
Desconfiança
Já quando a mulher consegue se inserir no ecossistema de startups, uma das dores relatadas em discussões é a desconfiança. A desconfiança costuma vir por parte de investidores homens que, embora reconheçam a responsabilidade delas em relação às finanças, acredita que ainda são pouco destemidas para enfrentar certas dificuldades que se impõem.
Apesar de dados mostrarem que empresas que possuem um quadro societário com participação feminina costumam ter resultados 25% melhores, o percentual de startups femininas que recebem investimentos é de apenas 2,2%.
Como a participação feminina em startups evoluiu nos últimos 10 anos?
As lideranças femininas geram impacto positivo no ecossistema de inovação – no quadro societário e na empregabilidade de outras mulheres. No entanto, ainda de acordo com o Female Founders Report 2021, o crescimento de startups fundadas e cofundadas por mulheres é lento e com pouca escala.
No gráfico, entre os anos de 2014 a 2020, podemos observar que o crescimento foi mais considerável nas startups fundadas por homens e mulheres. Enquanto isso, o número de empresas fundadas exclusivamente por mulheres, entre 2015 a 2020, teve um aumento de apenas 0,8%.
É um fato que o empreendedorismo das mulheres no ecossistema de startups ainda é recente, o que explica certas direções e tendências nos dados. Porém, os preconceitos arraigados têm sua parcela de responsabilidade nos resultados que trouxemos, que culminam em desfavorecimento a essas profissionais.
Mulheres no ecossistema de startups e desafios na captação no Venture Capital
O relatório da Distrito apresentou um dado muito interessante no que se refere aos VCs: 74% dos fundos são destinados aos negócios liderados exclusivamente por homens, enquanto apenas 3% são destinados aos negócios exclusivamente liderados por mulheres.
Na pesquisa, 60% das mulheres relataram já ter sofrido algum tipo de assédio moral, sendo indagadas por questões referentes ao gênero ou à maternidade. As perguntas mais comuns se alinham à desconfiança que citamos lá atrás, colocando em cheque a capacidade da mulher de conduzir o negócio.
Outro dado indicou que o primeiro contato com investidores e o pitch são as fases mais desafiadoras. A investigação mostrou que, em geral, os investidores dão preferência aos empreendedores em detrimento das empreendedoras.
Diversidade na tecnologia pode ajudar a alavancar mulheres no ecossistema de startups
O acesso às tecnologias tende a ser um grande motor da inclusão de mulheres no ecossistema de startups. Com sua visão de mundo diferente, elas podem beneficiar o mercado com mais criatividade e competência – apenas alguns dos vários ganhos que são possíveis.
Para reduzir as disparidades, empreendedoras maiores já se engajaram em ajudar a criar mentes femininas protagonistas no mundo digital. Iniciativas como processos seletivos com cotas são alguns dos incentivos de inclusão adotados por elas.
Porém, como sociedade, talvez precisamos pensar em outras iniciativas que antecedem a vida adulta. Uma possibilidade é instruir as meninas a se lançarem nos games e na lógica, de modo que entendam, desde cedo, que tecnologia também é para mulher.
Além disso, é importante oferecê-las a visão do empreendedorismo, mostrando que elas também podem deixar sua veia criativa pulsar no desenvolvimento de soluções disruptivas, tornando mais intensa sua participação no ecossistema de startups.
A VENTIUR promove a inclusão do público feminino nesta discussão
Um tempo atrás, investidoras e mulheres no nosso time notaram o baixo número de integrantes femininas CEOs nas reuniões, e então passaram a refletir sobre o que poderia ser feito. Assim nasceu o “É coisa de mulher”, em 2021, iniciativa que criou um ambiente para que investidoras, mentoras e líderes se sintam confortáveis em estar e participar.
VENTIUR Week em Curitiba – 2022
O VENTIUR Week é um evento que vai acontecer em Curitiba, de 24 a 27 de outubro, com assuntos que vão de inovação no varejo até o nosso “É coisa de mulher” – que vai acontecer especialmente no dia 26.
Além de mostrar modelos em que empreendedoras possam se inspirar, nesse dia as participantes pretendem abrir espaço a um ambiente para ouvir, dar apoio e trocar experiências com outras mulheres no ecossistema de startups.
Você pode acessar este link e conferir os temas e convidados do evento.